"Debaixo d'agua se formando como um feto
sereno confortável, amado, completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
mas tinha que respirar" (Arnaldo Antunes)
Sua mãe havia morrido. Causa boba que pessoa humilde não consegue sarar. Angelina recebeu a notícia como um golpe de vento que destrói o castelo delicadamente feito com cartas de baralho. - Sua mãe morreu menina, se apresse que agora será você quem irá cuidar do seu irmão. - dizia a vizinha apressada.
Notícia triste, mudança estranha que não se sente de uma só vez, que é preciso digerir. Não tenho mãe e agora sou eu a mãe. Pensamento complexo. Sentimentos confusos: Chore,Larga o choro menina, hora é de chorar.
sereno confortável, amado, completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
mas tinha que respirar" (Arnaldo Antunes)
Sua mãe havia morrido. Causa boba que pessoa humilde não consegue sarar. Angelina recebeu a notícia como um golpe de vento que destrói o castelo delicadamente feito com cartas de baralho. - Sua mãe morreu menina, se apresse que agora será você quem irá cuidar do seu irmão. - dizia a vizinha apressada.
Notícia triste, mudança estranha que não se sente de uma só vez, que é preciso digerir. Não tenho mãe e agora sou eu a mãe. Pensamento complexo. Sentimentos confusos: Chore,Larga o choro menina, hora é de chorar.
Durante o funeral Angelina não chorou, só mesmo quando o cortejo final carregava o corpo , que foi também a única cortesia que Inês, sua mãe,recebera durante sua existência sofrida, é que Angelina sentiu que tinha que chorar. Mas não chorou.
Angústia quando aumenta não cabe na gente. A menina seguia o cortejo mas desistiu. Saiu disparada feito um cão que vê o portão entreaberto. Seguiu correndo e nem ouviu seu pai gritar envergonhado da desfeita que a menina fazia.
Ela correu até o rio, única coisa que realmente se movia naquela cidade e seguia um destino que não era conhecido. O rio parecia dizer a menina que devia ela também seguir seu curso e não se deixar represar. Ela adentrou no rio de águas claras e rápidas. Deixou sapatos e blusa pretas na margem e seguiu até uma queda d’agua.
Entrou naquele véu gelado e revigorante, sentia um abraço gelado e forte que a fez relaxar. Ali no meio de tanta água também jorrava enfim aquele choro tão contido e saiam as lágrimas salgadas, gotas de mar que vivem dentro da gente. A água a confortava e ela se sentia acolhida de um modo diferente daquelas palavras esquisitas de falsos pêsames que as pessoas lhe dirigiam. Ali a natureza a tomava como filha, lhe conferia novamente o status de filha, lhe dava o amor que havia perdido.
Angústia quando aumenta não cabe na gente. A menina seguia o cortejo mas desistiu. Saiu disparada feito um cão que vê o portão entreaberto. Seguiu correndo e nem ouviu seu pai gritar envergonhado da desfeita que a menina fazia.
Ela correu até o rio, única coisa que realmente se movia naquela cidade e seguia um destino que não era conhecido. O rio parecia dizer a menina que devia ela também seguir seu curso e não se deixar represar. Ela adentrou no rio de águas claras e rápidas. Deixou sapatos e blusa pretas na margem e seguiu até uma queda d’agua.
Entrou naquele véu gelado e revigorante, sentia um abraço gelado e forte que a fez relaxar. Ali no meio de tanta água também jorrava enfim aquele choro tão contido e saiam as lágrimas salgadas, gotas de mar que vivem dentro da gente. A água a confortava e ela se sentia acolhida de um modo diferente daquelas palavras esquisitas de falsos pêsames que as pessoas lhe dirigiam. Ali a natureza a tomava como filha, lhe conferia novamente o status de filha, lhe dava o amor que havia perdido.
Saiu da queda d’agua e rumou novamente à margem. As pessoas a olhavam com desprezo, com medo, com pena, com perplexidade. Não havia rostos de amor.
Devagar se sentiu forte, não era mais uma menina, dali em diante era uma mulher. A força da água penetrou em suas veias e agora ela levava consigo aquela correnteza e seria ela também capaz de envolver quem ela quisesse bem e levar quem ela não quisesse mais.
Devagar se sentiu forte, não era mais uma menina, dali em diante era uma mulher. A força da água penetrou em suas veias e agora ela levava consigo aquela correnteza e seria ela também capaz de envolver quem ela quisesse bem e levar quem ela não quisesse mais.
Daniel Galligani 29/10/2011