sábado, 31 de dezembro de 2011

A Morte de Daniel Piza

      O mundo anda carente de pessoas que enxerguem bem, que sejam éticas e que trabalhem os problemas afim de dar a eles uma solução ao invés de perpetuá-los sob a forma de lucro. Pessoas que sejam honestas em suas opiniões. Que saibam encontrar pontos fracos onde todos se maravilham e também o contrário, saber ver beleza onde as pessoas apenas correm os olhos sem muito interesse.
         Daniel Piza era mais que um crítico cultural talentoso. Era também uma pessoa talentosa. Sim, é preciso ter talento para viver bem. E ele tinha.Uma pessoa que refletia muito sobre a vida e sobre como a arte lia o mundo em que vivemos. Hoje sabemos que o descontentamento está crescendo junto com as crises financeiras e junto a uma classe média cansada de políticos corruptos. Daniel sabia desvendá-los quando queriam manipular números ou atingir emocionalmente as pessoas afim de deturpar o que de fato acontece. Era um crítico da cidadania que dizem que temos mas que ainda estamos longe de termos.
        Como crítico, todos aqueles que liam suas crônicas sabiam da dedicação que ele tinha ao ler os livros e ver os filmes( as vezes acompanhado dos filhos e notando a reação dos mesmos) para que sua impressão fosse bem refletida antes de passar sua opinião aos leitores. O carinho de Daniel aos leitores era implícito mas sempre presente. Quem lia Daniel Piza era um pouco amigo dele. Por isso hoje me sinto triste e por isso amanha o jornal "O Estado de São Paulo" vai estar um pouco mais triste e com menos conteúdo crítico do que de costume. Perdemos um grande cidadão e um grande profissional.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Retirada...

          

                  Era madrugada, hora em que os relógios podem preencher com sua batida pontual a casa adormecida. O homem está sentado no sofá, café na mesa de centro e agia como quem cansado de ser desprezado pelo sono passou também a desprezá-lo. As mão do homem de cabelo escasso e branco carregam álbum: Glenn Miller.
                   Tratava-se de música de um outro mundo.Música do maestro Glenn Miller e de sua legião de grandes músicos. Um Mundo que morreu e que nos deixou de herança um grande vazio. o tempo daquela música era o tempo das Grandes Guerras, dos grandes sonhos, dos grandes músicos de jazz  e dos grandes escritores que se lançavam na vida como os personagens de suas histórias. O mundo era mais grave, mais áspero e selvagem, no entanto, era também mais compreensível para o velho homem.
                  Não colocou o disco para tocar. Bastava aquele momento, aquelas lembranças antigas para que seu coração bailasse tristonho numa festa  onde ele era o último convidado. E o último convidado que permanece é o que já não sabe mais porque continua dançando.
                    O Homem assistira a pouco os filhos que discutiam a herança, que nem era grande, muito menos valiosa. Sabia que essa discussão era para lembrá-lo de partir. Lembrou então que o maestro Glenn Miller morreu numa fatalidade. Morreu jovem, quando um avião americano bombardeou por engano o avião que levava a Big Band para casa. Jamais retornaram, mas jamais foram convidados a se retirar.
                     E assim, aquele homem, que lutou tanto durante sua vida, morreu. Estava com o disco de vinil envolvido nos braços. Ia embora  abraçado a única coisa que tinha permanecido de sua infância, abraçado a um dos poucos amores que ainda possuía.

sábado, 29 de outubro de 2011

Correnteza

CORRENTEZA

  



"Debaixo d'agua se formando como um feto
sereno confortável, amado, completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
mas tinha que respirar"  (Arnaldo Antunes)



Sua mãe havia morrido. Causa boba que pessoa humilde não consegue sarar. Angelina recebeu a notícia como um golpe de vento que destrói o castelo delicadamente feito com cartas de baralho.  - Sua mãe morreu menina, se apresse que agora será você quem irá cuidar do seu irmão. -  dizia a vizinha apressada.
                Notícia triste, mudança estranha que não se sente de uma só vez, que é preciso digerir. Não tenho mãe e agora sou eu a mãe. Pensamento complexo. Sentimentos confusos: Chore,Larga o choro menina,  hora é de chorar.
Durante o funeral Angelina não chorou, só mesmo quando o cortejo final carregava o corpo , que foi também a única cortesia que Inês, sua mãe,recebera durante sua existência sofrida, é que Angelina sentiu que tinha que chorar. Mas não chorou.
            Angústia quando aumenta não cabe na gente. A menina seguia o cortejo mas desistiu.  Saiu disparada feito um cão que vê o portão entreaberto. Seguiu correndo e nem ouviu seu pai gritar envergonhado da desfeita que a menina fazia.
           Ela correu até o rio, única coisa que realmente  se movia naquela cidade e seguia um destino que não era conhecido. O rio parecia dizer a menina que devia ela também seguir seu curso e não se deixar represar.  Ela adentrou no rio de águas claras e rápidas.  Deixou sapatos e blusa pretas na margem e seguiu até uma queda d’agua. 
           Entrou naquele véu  gelado e revigorante, sentia  um abraço gelado e forte que a fez relaxar. Ali no meio de tanta água também jorrava enfim aquele choro tão contido e saiam as lágrimas salgadas, gotas de mar que vivem dentro da gente.  A água a confortava e ela se sentia acolhida de um modo diferente daquelas palavras esquisitas de falsos pêsames que as pessoas lhe dirigiam. Ali a natureza a tomava como filha, lhe conferia novamente o status de filha, lhe dava o amor que havia perdido.
Saiu da queda d’agua e rumou  novamente à margem.  As pessoas a olhavam com desprezo, com medo, com pena, com perplexidade. Não havia rostos de amor.
              Devagar se sentiu forte, não era mais uma menina, dali em diante era uma mulher. A força da água penetrou em suas veias e agora ela levava consigo aquela correnteza e seria ela também capaz de envolver quem ela quisesse bem e levar quem ela não quisesse mais.

Daniel Galligani  29/10/2011   

terça-feira, 7 de junho de 2011

Estado Terminal

Há quem diga que foi depois daquele vento. Todos os dias que o antecederam não demonstravam a menor de mudança em Suzana. Mas bastou aquele vento para que então alguma coisa dentro dela balançasse. De repente aquilo que se formou em um único orgão se espalhou para os outros. Foi tudo muito rápido: Primeiro atacou os pulmões e ela não conseguia mais respirar direito. De dia crises de falta de ar, a noite suspiros intermináveis. Depois o estômago começou a se agitar como as ondas que se formam ao sabor do vento. Agitação e dor. Não conseguia mais comer.  Os olhos ganharam olheiras e já não olhavam alguma coisa. Ela olhava para o nada, para o além. 
                A partir daí as coisas começaram a se complicar. Falta de ar, estômago comprometido, palidez, olhos distantes. Só podia ser febre. E não tardou para que a menina não conseguisse mais se concentrar em nada. Parecia que não havia nada no mundo que a prendesse por mais de dez segundos, nada que despertasse nela um sorriso, uma palavra. Porém como o estado febril era intenso ela as vezes sem algum motivo aparente sorria. Sorria olhando para o teto, sorria mesmo sem estar bem. Outras vezes chorava de modo sentido e baixo. Não havia dúvida, ela estava muito mal. Sucumbira ao amor.

Daniel/ junho de 2011

domingo, 29 de maio de 2011

Revolução Francesa


       Fui teu Rei
       E no meu reinado
Ordenei a todos vassalos
Colherem aos montes
As flores que lhe entreguei

Ordenei aos criados
Que preparassem seus banhos
Nos mais lindos lagos
Que enquanto colhia impostos
Eu então encontrei.

E para alegrar os tristes Domingos
Reunia você e os meninos
E íamos rindo
Ver  os sarais e festanças
E nas nossas andanças
Esqueciamos do povo a sofrer 

Pois então minha rainha da França
Que todas nossas a festanças
Tirou do povo a esperança
E sem esperança todo mundo cansa
Esquecemos do povo a sofrer

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ator Recusado



Pedi no teatro da vida o papel de seu namorado
Estudaram muito meu caso e ele foi me negado
Podia ser  amigo, corretor de seguros, chofer
Cardiologista , massagista, vizinho ou advogado
Mas namorado não haveria de ser.

Então fugi da peça da vida
E recito a outras belas meninas
Os texto que lhe diria se eu fosse seu.
E decorei com amor as palavras
Que no seu ouvido soariam tão bem
E no espelho ensaiei olhares
Que amoleceriam os teus

E sei que quando aceno ao longe
Você não sabe ao certo porquê
Mas no seu coração surge um aperto
e brota um ramo do meu bem querer.

domingo, 8 de maio de 2011

finda o dia



O sol se pondo avermelhado, alaranjado e o céu escurecendo azul
A Sua mão não esta aqui mas meu coração a sente
Contente  sei que  minha ilusão tem no instante o seu abraço.
Mas o pôr do sol é o último calor e o mais confortável
É quando a luz se esvai  se multiplicando  em cores
Dando  certeza que voltará um novo brilho depois da noite.

E onde quer que você esteja o sol também se despede de ti
Todas suas ilusões por um momento se calam
Pois sabem que no fundo queres  mesmo é estar aqui.
E na noite escura, suas suplicas irão ser por mim.

O pôr do sol acaba com o nascer das estrelas.
Gigantes Sóis ao longe , centenas
Mas você sabe que apenas o sol te aquece
E que só meu abraço a contenta.

Poema ao Domingo



Antes eu fugia de ti Domingo
Agora te espero como um anfitrião educado
Que não sabe em que horas dizer “se vá”

Sei que trazes consigo lembranças
Sei disso mesmo antes de eu possuir as minhas
Sei disso desde que ouvia as rememorações da avó,
Das vizinhas, das tias.

Também não me assusta seu eterno discurso sobre finitude
Que toda vida acaba e que toda mão se une  ao terço
Que o fim aguarda até  mesmo
quem  agora descansa no berço.

O que me desconforta Domingo é teu silêncio, tua passividade
Porque quase tudo o que sei é brigar com leões,
Nasci com esse destino e tu vens deles me apartar
Me solta maldito Domingo que eu quero lutar ...

A Palavra a ser relembrada



Não queria ouvir de você  palavras comuns
 que poderão ser ditas a tantos outros depois.
 Não aceito “eu te amo” porque é desgastada.
 Não aceito também “você está sempre ao meu lado”
 Porque não há outro lugar para eu estar.
Quero que você procure no dicionário
uma antiga palavra que já caiu em desuso.
Quero uma  expressão arcaica ou moderna
 que me de a certeza de só caber em mim.

 Não quero rótulos. Meu único rótulo é ser teu.
Tão pouco quero lugares óbvios como “ seus olhos encontraram os meus”
porque a única coisa a ser encontrada nesse mundo deserto e sombrio
 são os seus olhos úmidos de sentimento.