segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Retirada...

          

                  Era madrugada, hora em que os relógios podem preencher com sua batida pontual a casa adormecida. O homem está sentado no sofá, café na mesa de centro e agia como quem cansado de ser desprezado pelo sono passou também a desprezá-lo. As mão do homem de cabelo escasso e branco carregam álbum: Glenn Miller.
                   Tratava-se de música de um outro mundo.Música do maestro Glenn Miller e de sua legião de grandes músicos. Um Mundo que morreu e que nos deixou de herança um grande vazio. o tempo daquela música era o tempo das Grandes Guerras, dos grandes sonhos, dos grandes músicos de jazz  e dos grandes escritores que se lançavam na vida como os personagens de suas histórias. O mundo era mais grave, mais áspero e selvagem, no entanto, era também mais compreensível para o velho homem.
                  Não colocou o disco para tocar. Bastava aquele momento, aquelas lembranças antigas para que seu coração bailasse tristonho numa festa  onde ele era o último convidado. E o último convidado que permanece é o que já não sabe mais porque continua dançando.
                    O Homem assistira a pouco os filhos que discutiam a herança, que nem era grande, muito menos valiosa. Sabia que essa discussão era para lembrá-lo de partir. Lembrou então que o maestro Glenn Miller morreu numa fatalidade. Morreu jovem, quando um avião americano bombardeou por engano o avião que levava a Big Band para casa. Jamais retornaram, mas jamais foram convidados a se retirar.
                     E assim, aquele homem, que lutou tanto durante sua vida, morreu. Estava com o disco de vinil envolvido nos braços. Ia embora  abraçado a única coisa que tinha permanecido de sua infância, abraçado a um dos poucos amores que ainda possuía.

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